Uma História de Talento

Esta história começou para 37 jornalistas no dia 7 de fevereiro de 2011 e não tem previsão de acabar!
Uma "História Viva" que se construiu a cada dia, sempre vai deixar saudade e reuniu num mesmo endereço da rua Pedro Ivo, no centro de Curitiba, o eco de sotaques vindos do interior do Estado, Santa Catarina, São Paulo, Pará, Amapá, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Estes são os Talentos Jornalismo GRPCOM 2011


sábado, 30 de abril de 2011

Perfil de Talento – Henrique Moretti

Henrique é um garoto sábio: estuda muito e muito sabe. O apelido oligárquico – ou a carinhosa abreviatura Oliga – foi uma das palavras que mais fizeram parte do vocabulário dos talentos na primeira fase do curso. Vindo de São Paulo, Henrique sempre demonstrava interesse em política, economia e ideias liberais.

Essa entrevista revela muito do discreto moço: Paixão por esportes e pelo tênis; família e experiência italiana e como ele consegue comer muito e continuar magrinho.

Henrique é cuidadoso e dedicado em tudo que faz. Para responder a entrevista do blog Jornalistas de Talento, ele usou três e-mails. Deve ser, por isso, que ele sempre defendeu as entrevistas pessoalmente. É com muita alegria que Henrique Moretti é hoje nosso talento super especial.
No final da entrevista uma excelente surpresa. Não perca! Vale a pena percorrer os muitos caracteres!


Porque você escolheu ser jornalista?
Quando eu era criança queria ser jogador de futebol – oh, que original! Nunca fui habilidoso, mas treinava bastante, jogava campeonatos e eu tinha boa técnica, chutava com os dois pés, tinha boa visão de jogo. Cheguei a disputar campeonatos, mas uma hora cansei do futebol e aos 12 anos me encantei pelo tênis. Rapidamente quis ser tenista. Treinava todo dia, fazia preparação física, viajava de Itanhaém, no litoral, a São Paulo (111 km) todos os fins de semana para jogar torneios da Federação Paulista. Mas vi que precisava treinar demais e ter um esforço sobre-humano para ir adiante. Lembro que aos 14 anos, então, já pensava em ser jornalista. Sempre gostei de escrever e de ler e vi na profissão uma maneira de continuar ligado ao esporte. Então enquanto eu via muita gente entrar até no 3º ano em dúvida quanto a qual vestibular prestaria, eu já estava decidido havia muito tempo.

Conte sobre uma história da sua infância.
Aos 14 anos, vale? Eu morava em Itanhaém e meus pais queriam que eu fizesse todo o terceiro ano em uma cidade maior: Santos. Naquela hora, provavelmente com medo de ficar longe da família e dos amigos, recusei. Mais para frente viria a me arrepender. Talvez seja por isso que hoje procuro não titubear diante de oportunidades parecidas. Enfim fui para Santos para fazer o terceiro ano, depois morei sozinho em São Paulo, antes da mudança de todo a minha família, e agora cá estou em Curitiba. Esse é um jeito Magnoliano de explicar as coisas e por sinal muito interessante – após as aulas do Magnoli o considero o psicólogo da geopolítica, pois busca explicar o presente a partir de pequenos fatos ocorridos no passado. É interessante como a nossa história dá voltas e você tem a chance de aprender com os erros.
Família (com a irmã)

Qual característica da sua personalidade você mais gosta?
Gosto do fato de eu não me deixar influenciar pelos outros. Essa característica eu sempre tive, até mesmo no período turbulento que é a adolescência. É claro que naquele momento eu às vezes ficava em dúvida, queria fazer as mesmas coisas que alguns amigos, mas ao final prevalecia a minha posição. Eu procurava fazer o que achava certo de acordo com a minha cabeça e confiava no futuro para mostrar que eu estava correto. Claro que hoje corro o risco de ser intransigente, mas procuro me controlar.

Quais são seus principais gostos?
Além de esportes? Filmes, e nesse quesito prefiro os alternativos. Às vezes passo mais tempo do que eu gostaria na internet – isso é viciante, melhor seria nem ligar o computador – para me dedicar mais à leitura, e até que estou melhorando nisso. Gosto de viajar, de conhecer novas culturas e novas pessoas – e isso o jornalismo me permite fazer. No ano passado comecei a ler livros de economia e fiquei fascinado com o mercado financeiro, vejo isso como uma grande oportunidade que ao mesmo tempo é empolgante, igual a um jogo de pôquer.

Uma habilidade. Como descobriu ela?
Eu acredito mais em trabalho que em habilidades. Tudo bem que existem dons, mas mesmo a pessoa mais talentosa do mundo pode ficar para trás, sendo superada por alguém bem menos talentoso que se dedicou muito. O meu pai me dizia isso quando eu era criança e eu duvidava – não tem jeito, eles sempre estão certos. Enfim, mas eu diria minha memória. Não sei dizer como a descobri, mas no ensino fundamental eu estudava muito pouco e sempre tirava boas notas. Meus amigos ficavam irritados com isso. Claro que essa tática não deu certo para sempre, já que as coisas vão ficando mais difíceis na escola e no terceiro ano do ensino médio fiquei pela primeira vez na minha vida de recuperação.

Uma paixão
O jornalismo. Meu pai é engenheiro e minha mãe, assistente social. Ninguém na minha família tem alguma coisa ligada ao jornalismo, e mesmo assim bati o pé e insisti nessa profissão – aliás, agradeço a meus pais pela liberdade que me deram, acho um absurdo os pais que impedem seus filhos de escolher seus cursos. Mal entrei na faculdade e já me disseram: “jornalista ganha mal, jornalismo é uma desilusão”. Continuo ouvindo essas coisas até hoje, mas continuo insistindo.
Gosto de fazer isso e ponto. E olha que na verdade já pensei o jornalismo de várias formas. Aos 14 anos queria ser comentarista de televisão, achava que o jornalista tinha de saber as escalações de vários times de cabeça – eu sabia. Hoje acho isso uma besteira sem tamanho. Se você precisar da informação, você pesquisa e pronto. Não é vergonha dizer “não sei”. E eu achava fantástica a oportunidade de conversar com pessoas famosas.
Hoje acho que é muito mais importante para o jornalista ter sensibilidade e capacidade de interpretação. E por isso admito os jornalistas mais velhos, porque a experiência só melhora o jornalista. E acredito que as melhores histórias estejam nas pessoas comuns, como mostram Gay Talese e Joseph Mitchell. Cada indivíduo tem uma grande história para contar – pena que muitos veículos não dão espaço para isso e seguem pensando apenas nas tais pessoas “importantes”.

Um segredo
Sou chorão. Sempre fui, e quando criança tinha vergonha disso. É bem aquilo que o professor Rafael Ruiz nos falava nas aulas – no modernismo temos que ser fortes, não podemos mostrar nossos sentimentos. Domingo passado fiquei chorando em casa porque recebi a péssima notícia de que a mãe de um de meus melhores amigos morreu. Mas chorei até quando Rubinho cedeu a vitória a Schumacher na Áustria, fiquei com muita raiva da Ferrari.
Esportivo

Conte um pouco sobre sua história com o Tênis.
O tênis é uma das coisas mais importantes na minha vida, mas é preciso jogá-lo com um mínimo de competitividade para entendê-lo. Se eu tiver um filho, gostaria que ele jogasse desde os três anos de idade. O esporte é saúde por si só, mas o tênis é mais: traz valores, exige uma grande disciplina, capacidade de concentração, controle das emoções. Além do desenvolvimento físico, trabalha principalmente com o desenvolvimento mental. Quando dois adversários estão em quadra, travam uma luta tão ferrenha quanto à do boxe – porém sem violência. É o esporte branco. É o esporte no qual os atletas se cumprimentam ao fim da partida e admitem que seu golpe foi para fora antes que o juiz intervenha – aliás, apenas no tênis profissional há juízes, e a ética sempre prevalece, com os jogadores confiando em uns aos outros na hora de cantar a bola fora ou dentro. Claro que já errei e me envolvi em confusão, mas é um esporte que privilegia a justiça. E dentro da quadra você passa por um turbilhão de coisas. Às vezes sua cabeça simplesmente voa e você perde o jogo por causa de uma desconcentração que durou um minuto. Aí você liga a TV e vê o Federer, talvez o jogador mais talentoso de todos os tempos, fazer a mesma coisa. É um esporte muito humano, em que você sente todas as aflições e luta contra os mesmos demônios do jogador profissional. Sigo gostando de futebol, mas o culto à malandragem nessa modalidade me incomoda. Para mim a cabeçada do Zidane no Materazzi foi um gesto muito verdadeiro, espontâneo. O francês não aguentou ao ouvir ofensas a sua irmã. Aí vi muita gente dizendo que isso é normal no campo de jogo. É mesmo normal? Precisa xingar o adversário e provocá-lo para vencer?
E se há uma coisa que me deixa irritado é chamar o tênis de esporte de elite ou de burguês. É claro que é um esporte em geral mais caro que outros, mas uma raquete de ponta custa 600 reais e dura a vida inteira. Isso é caro? É tudo uma questão de prioridades. A Gazeta do Povo publicou outro dia uma matéria mostrando que um carro popular (contando financiamento, estacionamento, seguro etc.) custa em média 900 reais por mês em Curitiba. Isso sim é caro – não sou contrário a ter carros, mas muitas pessoas não pensam direito nisso e poderiam investir o dinheiro de uma forma muito melhor. E há quadras públicas – em São Paulo são 42, em Curitiba já joguei em duas. No Parque Villa Lobos, em São Paulo, há um projeto social que já colocou 500 crianças de escolas públicas em contato com o tênis. A ideia principal ali não é ter um jogador profissional, mas mostrar belas alternativas – dão treinamento para ser professor, para ser juiz de linha, juiz de cadeira, para ser pegador de bola em torneios oficiais, incentivam que os garotos façam educação física. Acredito no esporte como instrumento de transformação social não porque alguém pode subir na vida e virar milionário, mas pelas coisas boas que ele ensina. No Brasil deveríamos levar as pessoas ao esporte não simplesmente para ganhar e se tornar profissional – isso seria um investimento artificial igual ao da China, feito em determinados esportes que distribuem muitas medalhas só para ganhar as Olimpíadas. Deveríamos seguir o exemplo dos EUA, com esporte e universidade andando lado a lado, com o esporte sendo tratado como uma disciplina necessária assim como as demais.

E a experiência italiana?
Passei exatos 30 dias lá. Fui com meu pai e tínhamos dois objetivos: providenciar nossa cidadania italiana e conhecer nossos parentes. O que mais gostei? Vale sorvete? Não sou o maior fã de sorvete, mas lá tomava no mínimo dois por dia – como era bom. Falando sério, das pessoas que conheci. Aproveitei parte do tempo para fazer um curso de italiano e fiquei maravilhado com a diversidade de pessoas – havia até três japoneses fazendo intercâmbio. O italiano é uma língua maravilhosa, mas até japoneses se interessavam por ela? Como isso me surpreendeu. Até hoje mantenho uma amizade muito forte com uma amiga croata (planejo ir para lá, já que a nova Ibiza fica em uma ilha croata) e com um francês e um espanhol. E gostei muito de meus parentes distantes. Conheci duas irmãs de meu bisavô, que era na prática o italiano da minha família e morreu em 1995. O modo como todos lá me trataram foi impressionante – levavam-me para todos os lugares, tinham uma paciência enorme.
Voltei de lá sendo mais conivente com os inúmeros problemas do Brasil. Sempre fui muito crítico com tudo aqui, odiava o tal jeitinho brasileiro eternizado em Raízes do Brasil. Na Itália vi sorveteiro tentando ganhar dinheiro a mais em cima de turista que não falava italiano, presenciei uma greve nos trens que me deixou preso em Gênova... Hoje procuro mais buscar soluções em vez de ficar criticando.
Turístico

Uma pergunta que todos os talentos querem saber: como você explica o fato de comer muito e pouco engordar? Sempre foi guloso?
Não diria guloso, porque se formos analisar metade do meu prato é de salada. Tenho esse negócio de “geração saúde” muito forte em mim – como muitas frutas também e não bebo refrigerante há 12 anos. Quando estou com vontade de comer um doce, substituo por uma laranja, uma mexerica, um mamão... Funciona! E essas coisas nunca ninguém me disse para fazer, é algo da minha cabeça, minha família nunca teve muitas preocupações nesse sentido. Eu sempre comi de tudo, não tenho frescura com comida.
Tenho uma história engraçada, porque na primeira vez em que fui a uma churrascaria – foi com o pessoal do tênis, eu tinha uns 13 anos – veio uma banana assada e eu comi até a casca. Ficaram tirando sarro de mim por meses. Gosto de comer bastante, porém faço muita atividade física também. Em Curitiba por exemplo ando todos os dias 7 km do Juvevê até a Gazeta do Povo(contando ida e volta). E gosto muito de andar. Em casa não como tanto assim, às vezes tenho preguiça, vontade de gastar o tempo em outra coisa. Só quando vou a restaurante que como muito. Ali é um momento em que estou concentrado!

Como você espera o futuro?
Quero continuar conhecendo as histórias fascinantes das pessoas. Quero conhecer vários lugares do mundo, culturas diferentes. E não quero ficar parado jamais. Tenho necessidade de fazer sempre alguma coisa. E quero me atualizar, fazer uma outra faculdade. Em 2007 fiz o primeiro ano de letras na USP, mas parei para começar a estagiar como jornalista. Não era maduro o suficiente para enxergar a importância de me aprofundar em outros temas e penso em fazer história, letras ou ciências sociais, porque a faculdade de jornalismo trata vários assuntos superficialmente.

Uma mensagem para deixar para a posteridade e a prosperidade
Corra atrás dos seus objetivos.
Gosto da história de quando a Alice encontra o gato e pergunta:
"O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar?" 
"Isso depende muito de para onde você quer ir", respondeu o Gato. 
"Não sei para onde quero ir", retrucou Alice. 
"Então não importa o caminho que você escolher", disse o Gato.
Aquela história de “deixe a vida me levar” é a pior coisa que existe. Precisamos viver os momentos intensamente e trabalhar para alcançar nossos sonhos. Quando miro uma coisa, penso logo no que terei de fazer para chegar lá. Se você se encontrar fazendo uma coisa no piloto automático, pare na hora e reflita.

Outras considerações que você desejar
O que vou dizer ainda tem a ver com o outro tópico. Fiquei com fama de indeciso na segunda parte do trainee e tive milhões de dúvidas, pensando se eu deveria dizer que havia chegado à conclusão de que eu deveria ir para a Gazeta do Povo – eu tinha concluído que não precisava de uma experiência nova em TV e que só não estive satisfeito com os lugares nos quais trabalhei antes devido a uma situação ou outra que na Gazeta não existiria. Fui atrás do meu objetivo – meio tardiamente, é verdade –, resolvi falar e deu certo. Admiro também a atitude do Evandro que preferiu fazer o trainee da TV – obviamente ele estava mais decidido que eu, mas eu tive uma experiência incrível de reflexão até entender o que eu realmente queria – olha a história Magnoliana aí de novo. Enfim, passadas três semanas, eu já tinha a absoluta certeza de que eu havia tomado o caminho certo e nesta sexta tive mais um motivo para comemorar: ficarei os próximos 30 dias como freela de esportes na Gazeta. Agora é aproveitar a oportunidade! 

Parabéns! O blog Jornalistas de Talento orgulha de você e deseja muita força e felicidade na nova tarefa!

Nenhum comentário:

Postar um comentário